Nuno - oito anos!

Hoje quando cheguei a escola já o garoto chorava.  8 anos.  Chorava agarrado à cabeça. Estava em pânico perante a hipótese de a mãe ser avisada.
São poucos os que sabem pedir desculpas ou que percebem para que servem. A maior parte das vezes sabem mediar o conflito ou pela força ou pela rejeição apenas. O Nuno berrava e entre palavõres ouvimos: "espero que a minha mãe morra!!"
Todos os que estávamos na sala parámos por um segundo! Foi dito sem afeto  ou raiva, foi dito como um facto apenas! A  mãe  era apenas a personagem que estava do outro lado e lhe iria bater!
Todos nós aprendemos a desvalorizar os palavrões que ouvimos,  e que até nos são dirigidos, e já nem sabemos se devemos redirecionar a linguagem ou simplesmente não valorizar o que por si não tem valor algum. Aqui é assim que se sabe dizer. E, é esta  a forma  que assume boa parte da relacão com o "outro"!
Todos os que estávamos na sala hesitámos. Por aqui uma ameaça é algo vulgar e sem valor algum! Mas o que fazer, perante a antecipação de mais uma tareia, como consequência da queixa aos pais, e o medo súbito que se lhe estampou na cara ?! O que fazer quando estamos todos os dias a tentar fazer por eles o que a maior parte do mundo lhes nega?! O que fazer quando sabemos que o melhor que fazemos por eles é obrigarmo-nos a  ser honestos?  Ás vezes é dificil ensinar coisas simples como : as consequências  dos nosso atos sao geradas sobretudo por nós próprios!

É tremendo perceber as condições de vida e a infelicidade de muitos destes miúdos! Esta mãe tem para além deste mais 6 filhos, todos eles de pais diferentes e, no momento está grávida de gémeos! O Nuno vive com a avó e vê a mãe ao fim de semana.

Há um tempo numa aula dizia-lhes:
- O Prof Elson para a semana nao vem dar aulas.Vem outro professor.
- Porque é que ele nao vem?
- A mulher dele vai ter um bébé, ela mora noutra cidade e ele tem de ir ajuda-la !
-  " Porque é que ele foi lá? O filho nao é dele?" !! perguntou o Nuno.
Fiquei  estupefacta!
Oito anos!